Todas precisamos ler - Mulheres que Correm com os Lobos
Obra da psicanalista Clarissa Pinkola Estés instiga mulheres a reencontrarem a própria natureza livre e selvagem
VocĂȘ jĂĄ se sentiu louca, desajustada e profundamente deslocada de todas as ideias do senso comum sobre como deve ser uma mulher? Alguma vez vocĂȘ teve a sensação de que existe uma versĂŁo sua escondida lĂĄ no fundo, querendo criar, querendo ser livre, mas vocĂȘ nĂŁo sabe como puxĂĄ-la das profundezas? Ou, ainda, que vocĂȘ Ă© obrigada a manter essa sua versĂŁo selvagem ali, bem guardada, para conseguir seguir sua rotina?
Se sim, vocĂȘ definitivamente nĂŁo Ă© a Ășnica. Essa mulher nĂŁo domesticada, instintiva e visceral, que por vezes nos assusta quando tenta emergir, ou que buscamos incessantemente sem nem saber por que, estĂĄ em todas nĂłs. E Ă© dela, da Mulher Selvagem, que fala a psicanalista junguiana Clarissa Pinkola EstĂ©s no livro Mulheres que Correm com os Lobos.
Lançado hå 28 anos, o livro jå percorreu o mundo e vem perpassando geraçÔes. No Brasil, esteve esgotado nas livrarias e disputado nos sebos até ganhar, em 2017, novas impressÔes pela Editora Rocco.
Afinal, o que Ă© Mulheres que Correm com os Lobos?
O livro de Clarissa Pinkola EstĂ©s reĂșne 19 lendas folclĂłricas, contos de fadas e histĂłrias de diversas culturas, coletadas pela autora ao longo de 20 anos. SĂŁo narrativas que abordam diferentes nuances do arquĂ©tipo da Mulher Selvagem. Ao contĂĄ-las, a psicanalista analisa as personagens e explica o sentido de cada histĂłria, dando pistas de como podemos nos reencontrar com esse arquĂ©tipo que faz parte de todas as mulheres, e que pode ser entendido como força instintiva, fonte de sabedoria ancestral e a origem do feminino.
Apesar do sucesso, o livro não é um guia sobre como se libertar das amarras da cultura machista e se tornar uma mulher genuinamente livre. Embora possa promover isso, Mulheres que Correm com os Lobos não då orientaçÔes nem passo a passo. Ele é um livro que nos convida a olhar para dentro, fazer perguntas a si mesma, desatar nós. O que virå depois disso, cabe a nós decidir.
Para Mariana Bandarra, Mulheres que Correm com os Lobos Ă©, antes de tudo, uma leitura prazerosa. “NĂŁo Ă© simplesmente um livro. Ele tem uma coisa que estĂĄ contida nas palavras. NĂŁo Ă© coincidĂȘncia que muitas pessoas se refiram a ele como uma bĂblia, porque o jeito que a autora escreve jĂĄ Ă© a substĂąncia. O jeito que ela trança a linguagem, tece as frases, os parĂĄgrafos e as ideias, jĂĄ estĂĄ encharcado da prĂłpria natureza do que ela estĂĄ falando. Ela faz uma escrita selvagem”, diz.
AlĂ©m de bem escrita, a obra de Clarissa Pinkola EstĂ©s tem potĂȘncia para desencadear revoluçÔes pessoais. “A leitura encoraja a incluir as perdas, os medos e as mortes na vida e na nossa narrativa, para quem sabe podermos ressignificĂĄ-la e vivĂȘ-la de maneira mais criativa, sendo autoras, contando outras versĂ”es de nossa prĂłpria histĂłria”, explica LuĂsa Lamardo.
A psicĂłloga e escritora Juliana Garcia tem este como seu livro de cabeceira hĂĄ 15 anos, e o considera tĂŁo importante que criou a Jornada Mulheres que Correm com os Lobos, um curso online em que conduz a leitura e as reflexĂ”es do livro. Para a especialista, ele Ă© um “convite para encontrar o caminho de casa”. “Os contos, os sĂmbolos que eles carregam, o modo como a Clarissa vai desvelando as interpretaçÔes, sĂŁo um convite para que a gente se conecte com a Mulher Selvagem, aquela porção em nĂłs que nĂŁo foi domesticada, que carrega seus instintos e potencial criativo”, fala.
“Esse livro ressignificou a minha relação com a minha solidĂŁo. Especialmente nesse momento de quarentena, eu tenho sentido muito isso", conta Mariana.
Por conter tantas camadas e por ser dividido em capĂtulos que abordam diferentes nuances do arquĂ©tipo da Mulher Selvagem, Mulheres que Correm com os Lobos Ă© um livro que pode ser devorado, mas tambĂ©m pode ser saboreado e digerido aos poucos, em uma jornada que pode durar semanas, meses ou anos.
A sugestĂŁo de Mariana Ă© que cada aprendizado seja devidamente decantado, para sĂł entĂŁo a leitura prosseguir. “Esse livro precisa ser lido e integrado. E o processo de integração Ă© levar pra casa o que eu aprendi na aventura”, recomenda.
Juliana recomenda apreciar a leitura devagar e com uma xĂcara de chĂĄ. “Em um dos capĂtulos, a Clarissa fala da beleza que pode haver em tomarmos uma xĂcara de chĂĄ com a nossa dor. Respirar, parar, sentir, compreender, estar presente e atĂ© poder degustar o que esse conhecimento traz”.
NĂŁo Ă© preciso se preocupar em seguir a ordem dos capĂtulos. “Cada conto Ă© independente, entĂŁo vocĂȘ pode ler na sequĂȘncia dos capĂtulos, abrir ao acaso, escolher um conto que te chame a atenção. Eu costumo recomendar que se leia primeiro a introdução e o capĂtulo 1, para entrar no universo de Mulheres que Correm com os Lobos. Inclusive, no capĂtulo 1 Ă© que a gente entende o tĂtulo do livro. Depois, fique livre para ir sentindo o livro e criar seu ritmo”, ensina a psicĂłloga.
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